Confiança na mídia não é suficiente para desfazer crenças infundadas

Um estudo produzido por pesquisadores chilenos deduz que fortalecer um ecossistema confiável de notícias, baseado em padrões jornalísticos de produção, tem mais força no combate à desinformação do que estimular a confiança das pessoas em veículos tradicionais de comunicação. No complexo fenômeno da "desordem informacional", as muitas nuances da desinformação pedem a compreensão de que inclusive a imprensa pode ajudar na disseminação de informações erradas e não verificadas quando reproduz discursos mal-intencionados em notícias sem a adequada apuração. Nesse sentido, a marca que sustenta a notícia não estaria no veículo ao qual é tradicionalmente relacionada, mas em padrões de produção que ampliam a representatividade, diversificam a abordagem, verificam os dados e as afirmações e desmentem rumores.

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IA “desonesta” na “economia da intenção”, a nova fronteira da manipulação de dados

Um outro braço da economia está em desenvolvimento. Com o uso de inteligências artificiais e ferramentas que colhem, organizam e interpretam dados comportamentais e psicológicos de nossos rastros digitais, nossos planos e propósitos estão virando moeda. É o que os pesquisadores estão chamando de “economia da intenção”. Nessa nova fronteira, a possibilidade de que já exista uma IA "desonesta", provida de autonomia e "autoconsciência" capaz de "trabalhar contra interesses humanos", também oferece riscos inteiramente diferentes dos que são discutidos em debates publicados pela mídia. Pode parecer alarmista, mas a questão é que há indícios em estudos com base em Ciência de um cenário no qual nossas decisões sejam vendidas antes que as tomemos e os algoritmos possam aprender por conta própria a driblar obstáculos que se contraponham à sua programação. Se for assim, discutir qual 'chatbot' de IA é melhor, mais completo e menos manipulador torna-se irrelevante.

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O risco global de censura à diversidade em nome da liberdade de expressão

Eventos recentes no setor de tecnologia ofuscaram as demonstrações de poder das big techs e colocaram em pauta alternativas viáveis contra o monopólio digital que controla dados pessoais e fluxos de informação em rede. A explosão do DeepSeek foi o resultado mais proeminente de um movimento que propõe a criação de redes descentralizadas e protocolos abertos para devolver aos usuários o poder de definir seu próprio “destino digital”. Ao que parece, a mentalidade do Vale do Silício, cuja percepção de sucesso e de inovação tornou-se hegemônica, começa a enfrentar um esforço concorrente e de fôlego renovado no sentido de combater a censura à diversidade promovido pelas grandes corporações em nome da liberdade de expressão.

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Meta faz prenúncio de que soberania digital é a pauta das ‘big techs’

Estamos de volta, com o primeiro boletim do ano, agora quinzenal. Neste ano, vamos acompanhar como as tecnologias influenciam o consumo de informação qualificada. O primeiro prenúncio de que as grandes empresas de tecnologia apostam em uma soberania digital foi dado pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg. Ao menos nos EUA, suas plataformas não contarão mais com a verificação especializada dos fatos. Também há mudanças nas políticas de moderação de conteúdo, mais permissivas com postagens sobre temas sensíveis que, em países como o Brasil, podem ser consideradas ilegais. Em nossa leitura crítica, o discurso de que as medidas procuram ampliar a liberdade de expressão sugere uma estratégia de tensionar as leis e as normas contra a manipulação do debate público e o monopólio da infraestrutura de redes, essenciais para o controle político nas decisões sobre o negócio.

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Três fatores que desafiam a Democracia no circuito da desinformação em 2025 [#37]

Concluímos aqui nossa jornada de produção com 37 boletins semanais e um relato exploratório, trazendo leitura crítica e análises a respeito dos impactos da desinformação em processos eleitorais e os impactos das eleições no uso da internet e das mídias digitais. As escolhas legislativas e jurídicas no extremo entre a punição e a leniência, a ingerência de grandes grupos econômicos nas decisões de Estado para conter os danos da desinformação e a hiper fragmentação da realidade desenhada pela ilusão de consensos são três fatores que apontamos como desafiadores para a Democracia no próximo ano. A anulação das eleições na Romênia, as decisões jurídicas sobre o Marco Civil da Internet e a regulação do uso de Inteligência Artificial no Congresso, a influência das 'big techs' dentro do governo Trump e o terrorismo digital são alguns dos elementos que alimentam desinformação, desconfianças e incertezas.

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Intimidade entre ‘big techs’ e poderes de Estado ameaça defesa de direitos [#36]

Enquanto o STF avalia se plataformas devem ser responsabilizadas por conteúdos ilegais sem decisão judicial prévia, o Senado pode aprovar nesta semana o projeto de lei que regula o uso de inteligências artificiais no Brasil. o Judiciário tende a apertar o cerco às plataformas e o Legislativo ameniza a responsabilização das empresas desenvolvimento de tecnologias que impactam na liberdade de expressão e na integridade da informação em meios digitais. Nesse cenário, as 'big techs' investem cada vez mais na presença direta em decisões de Estado e determinados governos promovem a judicialização de liberdades, a estigmatização da imprensa e o uso de tecnologias de vigilância como forma de controle.

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Limites do Marco Civil da Internet à liberdade de expressão em debate no STF [#35]

O Supremo Tribunal Federal (STF) debate a constitucionalidade do Marco Civil da Internet, legislação pioneira que completou uma década, em meio a profundas transformações no ambiente digital. O dilema envolve equilibrar liberdade de expressão, proteção de direitos e responsabilidades das 'big techs'. Desinformação e discursos de ódio não estavam na mira da legislação em sua origem e o novo cenário oferece os riscos de censura prévia e inibição da inovação, dependendo das decisões da Suprema Corte. Para evitá-los, o judiciário brasileiro precisa assumir moderações no interesse público e deixar que as plataformas se responsabilizem por questões de interesse privado.

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Ilusão de consensos, realidades sob medida e a crise da informação [#34]

A realidade feita sob medida e a ilusão de consensos são fruto de uma crise na qual a polarização e a desorientação social, a distorção dos fatos como "nova normalidade" e a indústria da mentira alimentada por influenciadores em busca de dinheiro e pelas elites em busca de poder constituem o circuito de desinformação, como destaca na capa a edição dominical do jornal espanhol El País. É preciso considerar, contudo, que governos estão usando a publicidade oficial para controlar veículos de informação, estão reduzindo o direito legal de acesso à informação e atacando a imprensa para dividir opiniões e desacreditar informações que se contrapõem à propaganda. Esses indicadores também se somam às mentiras e falsidades espalhadas em grande escala com efeitos danosos para as democracias.

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Ampliar o alcance da veracidade é um exercício analógico de escolhas [#33]

Já expusemos em um de nossos boletins que orientar os algoritmos de recomendação para valorizar a civilidade nas redes e desmonetizar conteúdos ofensivos poderiam garantir a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, limitar o alcance digital de mentiras e falsidades criadas para gerar danos. Enfatizamos agora que ampliar o alcance da veracidade no fragmentado cenário de produção de narrativas e de meios pelos quais a informação circula é tão necessário quanto reduzir o impacto da desinformação e de discursos ofensivos pela regulação. Este é um exercício de atenção, lento e analógico, onde as escolhas dependem cada vez mais de fiadores humanos. Os veículos tradicionais de imprensa, que poderiam ocupar este espaço, estão cedendo à velocidade da produção digital.

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Onde tudo parece mentira, ceticismo pode minar os fatos com falsas equivalências [#32]

Lição tirada nas eleições nos Estados Unidos: a economia da atenção eleitoral não dispensa mentiras e falsidades, mas a retórica usada para refutar alegações infundadas pode ter vitaminado o desempenho de Donald Trump nas urnas. O presidente recém-eleito abocanhou parte significativa dos votos de extratos populacionais tradicionalmente críticos a ele, na contramão das estimativas que davam como acirrada uma disputa eleitoral vencida com folga. É preciso também reconhecer que as discussões sobre o que é ou não verdadeiro em campanhas eleitorais ganham mais atenção do que propostas de solução para os problemas que enfrentamos. A questão é que estamos migrando para um cenário distópico, onde tudo parece mentira e o ceticismo tende a usar falsas equivalências para dar veracidade e autenticidade aos fatos.

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