Fantasia, omissões e violência no encalço da Democracia [#31]

Revelar os "mistérios" por trás das falsidades contadas para desinformar é tão importante quanto as refutar com discursos racionais. É o que diz o professor e pesquisador Paolo Demuru, para quem as teorias conspiratórias são estruturadas sobre um tipo de fantasia que oferece um "núcleo de verdade" capaz de reforçar crenças, as mais improváveis. É uma perspectiva interessante, na medida em que a imprensa vem perdendo credibilidade justamente pela postura omissa de seus executivos, que tratam a informação como 'commodity' e usam a ideia de "neutralidade" como moeda. Nesse cenário, a violência política ameaça os processos eleitorais ao ganhar vida também fora do ambiente digital. Os três fatores não têm como ser vistos isoladamente nem tratados fora do contexto no qual as democracias ocidentais se fragilizam.

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Diálogo e participação política sofrem mais ameaças a cada ciclo eleitoral [#30]

Na edição de número 30 do boletim “Desinformação em Pauta”, nossa leitura crítica traz argumentos sobre como o circuito da desinformação impacta na diluição do diálogo e da participação política. Para o filósofo Mark Coeckelbergh, um dos principais pensadores sobre Inteligência Artificial na atualidade, a vigilância e a manipulação de crenças são fatores de risco para o sistema democrático. As eleições no Brasil mostraram que o uso de IA pode não ter impactado como se imaginava, mas está contribuindo para ampliar a incivilidade no debate público, amparada por estratégias de marketing predatório, pelo medo da violência e pela polarização, fatores que estão afastando os mais jovens do cenário político. Não é o voto que está sob ameaça nesse cenário, mas o diálogo e a participação, essenciais para o fortalecimento do sistema democrático.

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IA nas eleições traz mais riscos ao senso de realidade do que ao voto [#29]

O super ciclo eleitoral deste ano revela como conteúdos de desinformação produzidos com Inteligência Artificial intensificam a corrosão do senso de realidade, mais do que influenciam o voto. Os indícios são de que a IA tem contribuído até agora para gerar um "vácuo de confiança" que políticos extremistas estão explorando para desacreditar o sistema democrático. A campanha eleitoral no Brasil mostrou que "comportamentos inautênticos coordenados", típicos do mundo digital, ganharam as ruas com atores interpretando perfis falsos para espalhar desinformação. As ferramentas de IA tendem a se somar a práticas nocivas já bem conhecidas de desinformação, com potencial para as eleições de 2026.

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Impacto eleitoral nas tecnologias é maior do que o digital nas eleições? [#28]

Como já apresentamos nas nossas leituras críticas, o uso de IA para gerar conteúdo sintético de desinformação não se concretizou nas eleições municipais deste ano. Mas o terreno onde irregularidades com esse tipo de tecnologia pode florescer foi semeado, especialmente na corrida pela prefeitura de São Paulo. A Justiça Eleitoral tem se antecipado ao impacto das tecnologias em eleições porque está avalizada pelo Legislativo, que se vem se eximindo de regular nesse campo. Os limites estabelecidos no âmbito das eleições têm ajudado a entender os riscos enfrentados pela Democracia diante dos avanços tecnológicos. A questão é saber se as resoluções normativas estão moldando as decisões fora da esfera eleitoral ou não.

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Desinformação eleitoral tensiona a Justiça com velhas práticas [#27]

Desordem informacional teve nome e sobrenome nas estratégias de campanha para as eleições que fecharam o primeiro turno no domingo (06/10). Fraude, discurso violento e mentiras marcaram um processo eleitoral pautado em velhas práticas de desinformação, subvertendo as preocupações da Justiça com o uso de Inteligência Artificial. Os principais desafios foram controlar as tensões provocadas por candidatos, especialmente Pablo Marçal, que usaram as brechas nas normas eleitorais para ganhar visibilidade. Marçal é visto como um fenômeno por ter alcançado um número de votos expressivo na maior cidade do país ao explorar os recursos oferecidos pelas 'big techs' para lucrar no âmbito político com a economia da atenção e superou a IA como ameaça à integridade das eleições.

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Argumentos já desmentidos retomam fôlego na desinformação política [#26]

A desinformação política, especialmente em períodos eleitorais, é reciclada com pequenas alterações e volta a circular mesmo depois de amplamente desmentidas suas mentiras e tentativas de manipulação. Um estudo da Newtral, na Espanha, revela que 25% das verificações refutam conteúdo reciclado com estratégias que envolvem a criação de dados, mudanças de contexto e a combinação de múltiplas afirmações para dificultar o trabalho de checagem. A imprensa, por seu lado, muitas vezes recorre a declarações oficiais para refutar alegações falsas ou enganosas, em uma postura pouco crítica e investigativa. Na democracia veloz das mídias digitais, o combate à desinformação precisa ir além de desmentir boatos. Requer uma imprensa mais crítica e a implementação de mecanismos de controle social que pressionem as instituições democráticas a práticas mais transparentes.

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Violência política incita circuito de desinformação e ameaças eleitorais [#25]

Um cenário preocupante de intimidação política no limite entre o discurso aceitável pela Justiça e a violência explícita ganha força no período eleitoral. Extremistas, especialmente de direita, têm ameaçado autoridades e servidores públicos sem consequências legais, mesmo ao incitar a violência. A correlação entre a retórica de líderes políticos e o aumento da violência explícita tem se revelado mais consistente, diante de inúmeros casos de agressão e intimidação política. A desinformação está sendo usada estrategicamente para inflamar debates e amplificar discursos que desafiam as instituições democráticas e promovem a polarização. As táticas de elevar o antagonismo em períodos eleitorais estão impactando os índices de confiança na Democracia, como mostram levantamentos recentes de organizações internacionais.

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‘Big techs’ modelam a produção de notícias e o circuito da desinformação [#24]

Grandes empresas de tecnologia estão financiando o Jornalismo por meio de uma estratégia que um recente estudo chama de "filantrocapitalismo". Os investimentos seguem a premissa de fortalecer a independência e a inovação na produção de notícias. No entanto, essa "filantropia tecnológica" pode comprometer a autonomia econômica e editorial dos veículos chamados independentes. Para entidades jornalísticas, associações de mídia e a própria Justiça Eleitoral, valorizar o "Jornalismo profissional" é a melhor forma de combater a circulação de conteúdos fraudulentos e preservar a integridade da informação e das eleições. Mas é preciso considerar que as 'big techs' também modelam o circuito de desinformação ao se esquivarem das responsabilidades na moderação de publicações e monopolizarem a intermediação entre anunciantes e editores.

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Como se opor ao sistema político traz vantagens no processo eleitoral [#23]

Não estão se confirmando os temores de que o uso de Inteligência Artificial para criar desinformação seria o principal risco às eleições neste ano. O que tem se destacado é um tipo de campanha eleitoral baseada em "recortes" de frases de efeito, agressões verbais, gestos caricatos e desrespeitosos, argumentos falsos ou distorcidos para promover engajamento nas mídias sociais e alcançar audiência fora das bolhas informativas do eleitorado. Além disso, destacam-se também interferências externas ao sistema político brasileiro, sobretudo de representantes de grandes empresas de tecnologia, contrariados em suas políticas permissivas de discursos extremistas e radicalizados nas mídias digitais. Os efeitos desse tipo de desinformação, na qual os interesses econômicos distorcem concepções de liberdade e de representação política, oferecem muito mais riscos para a Democracia e para o próprio sistema eleitoral do que o uso malicioso de ferramentas de IA para fazer campanha política.

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Relatório da e-Comtextos aborda efeitos da desinformação em eleições [#22]

Os debates polarizados sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de bloquear o ex-Twitter no Brasil e a "guerra digital" promovida pelo coach-candidato Pablo Marçal na campanha à prefeitura de São Paulo ajudam a descrever o cenário da comunicação política atual e como a desinformação influencia os ânimos de quem acompanha o processo eleitoral. A e-Comtextos mergulhou por cerca de três meses em diferentes fontes de informação qualificada para entender a relação entre Democracia, integridade da informação e liberdade de imprensa em um contexto de disputas políticas rasteiras e baseadas em discursos ofensivos, negativos e, boa parte das vezes, mentirosos. O relato explora argumentos a respeito de como se configura o circuito de desinformação e como se desenha o ecossistema informativo diante da escalada de tecnologias que desestabilizam as crenças baseadas em fatos e evidências. Na nossa análise desta semana, apresentamos nossa jornada de produção para compreender o fenômeno.

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