IA é desafio e parceira na busca por integridade eleitoral [#18]

O uso da Inteligência Artificial nas eleições deste ano é tema central nas discussões sobre os impactos da desinformação. A Justiça Eleitoral implementou normas rigorosas para evitar o uso de conteúdo fabricado e, ao mesmo tempo, vai adotar ferramentas de IA para dar agilidade e eficiência no combate às 'fake news'. Como desafio, a integridade do sistema de votação e a própria atuação da Justiça Eleitoral passam pelo escrutínio de uma população vulnerável às informações falsas, mas favorável a punições severas para candidatos que se beneficiem do uso de desinformação ao longo da campanha. O dilema nesse cenário está em como garantir respostas rápidas no combate à propagação de conteúdo enganoso e justificar as decisões a um grupo significativo de eleitores incapaz de discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso na disputa pelo voto.

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Justiça Eleitoral está entre a resposta ágil e uma jurisprudência sólida [#17]

Guilherme Boulos, candidato à prefeitura de São Paulo, se reuniu com a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, para discutir a urgência da agilidade nas respostas da Justiça Eleitoral em coibir 'fake news' durante a campanha. Para ele, o repositório de jurisprudências criado pela Justiça Eleitoral para ajudar nas decisões pode ajudar nessa missão. No entanto, o "senso de urgência" enfatizado pelo candidato está deslocado. A grande oportunidade nestas eleições é a de consolidar uma jurisprudência sólida no enfrentamento à desinformação, especialmente porque o processo regionalizado deve permitir diversidade de casos concretos a serem analisados de forma descentralizada por juízes de primeira instância. Os desafios estão na dificuldade de definir objetivamente o que é desinformação, distinguindo o que expressa má-fé, e a quem cabe este papel.

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Diálogos entre eleitor, IA e conteúdo enganoso pedem mediação humana [#16]

Em evento no Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, juristas especializados em Direito Eleitoral levantaram vários desafios para as eleições municipais deste ano. Dois deles nos parecem essenciais para a compreensão do fenômeno da desinformação em processos eleitorais. Primeiro, para avaliar os riscos a serem enfrentados seria necessário encontrar maneiras de verificar o peso das ferramentas de Inteligência Artificial na formação de consciência do eleitorado, visto que a mediação humana vem diminuindo. Além disso, estaria no potencial lesivo dos conteúdos enganosos a possibilidade jurídica de enfrentar as 'fake news' sem estigmatizar grupos e pessoas que, mesmo ingenuamente, defendem suas opiniões e crenças. Trazemos esses desafios para o debate levando em conta as teorias da conspiração e falsidades propagadas depois do atentado ao ex-presidente e candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Leia mais sobre o artigo Pressões econômicas e extremismo político contra a regulação de IA [#15]
Glowing blue sphere held by human hand generated by artificial intelligence

Pressões econômicas e extremismo político contra a regulação de IA [#15]

O Projeto de Lei que regula o desenvolvimento e o uso de Inteligência Artificial no Brasil foi mais uma vez adiado, vítima da desinformação e do 'lobby' das grandes empresas de tecnologia e representantes da indústria. Políticos extremistas e alinhados aos interesses das grandes empresas de tecnologia alegam que o texto abre possibilidades para a censura e o controle estatal. Entidades que representam a indústria e o setor empresarial condenam o que chamam de "carga excessiva de governança" sobre os processos de inovação. Nenhum dos dois argumentos procede. Mesmo com críticas, o texto do PL contempla os alertas feitos por especialistas para a necessidade de prevenir e mitigar os riscos no uso de IA adotando medidas de proteção aos direitos humanos. O que se percebe é uma aproximação entre as pressões econômicas e os discursos políticos extremistas para evitar o avanço das propostas legislativas.

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Leia mais sobre o artigo Medida inédita protege dados pessoais em recado às ‘big tech’ [#14]
Security system locks data for computer safety generated by artificial intelligence

Medida inédita protege dados pessoais em recado às ‘big tech’ [#14]

Na semana passada, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados determinou à Meta a suspensão do uso de dados pessoais de usuários para treinamento de sua ferramenta de Inteligência Artificial. A medida inédita tem caráter preventivo e dá um recado contundente às grandes empresas de tecnologia. Levanta-se agora um debate mais amplo sobre o equilíbrio entre os avanços dos modelos de IA e a proteção de dados, não só os pessoais. É praxe entre as empresas que detêm os serviços mais populares de tecnologia a ideia de que dados públicos estão disponíveis para uso privado. Em sua justificativa, a Meta alega que a medida da ANPD representa um atraso para os usuários brasileiros e justifica que os benefícios de IA compensam o fato de não ter avisado amplamente sobre as mudanças em suas políticas de privacidade nem ter oferecido um jeito rápido e simplificado de dizer "não" às atualizações, como manda a Lei Geral de Proteção de Dados.

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Influenciadores sintéticos amplificam o negócio de incentivar dúvidas [#13]

Autoridades eleitorais acendem o sinal de alerta para a presença de influenciadores produzidos com ferramentas de IA, no cenário político-eleitoral. No "limbo jurídico", esses influenciadores sintéticos não podem ser alcançados pelas regulações existentes. Mas é importante reconhecer que a influência de produtos artificialmente produzidos vai muito além de imagens, vídeos e áudios que imitam políticos e celebridades para enganar eleitores. A desconfiança nos processos e nas instituições democráticas não decorre apenas de fatores ideológicos. Emoções negativas são estimuladas por um negócio lucrativo e amplificado pelo propósito de fazer as pessoas agirem ou se omitirem com base em suas próprias crenças. Não existe consenso sobre o impacto disso no voto diretamente. Os estudos em diversas áreas mostram que os riscos para o processo eleitoral estão na mobilização política, por menor que seja, pelo medo e pelo ódio.

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Livre expressão deve levar em conta os limites de seu alcance [#12]

Os esforços para responsabilizar as plataformas de mídia digital pela circulação de conteúdo nocivo e fraudulento não são suficientes para conter a desinformação. Primeiro porque isso abre brechas para a censura se não houver um regramento claro sobre o que se quer que as empresas de tecnologia cumpram. Além disso, desconsidera uma infraestrutura lucrativa, onde algoritmos amplificam o alcance da desinformação e as empresas de tecnologia monetizam todo o tipo de narrativa que gere mais audiência. A qualidade da informação importa pouco nesse modelo de negócios, privilegiado pelo anonimato dos produtores de desinformação e pela falta de compromisso com os conteúdos de interesse social. Uma proposta interessante é limitar o alcance de conteúdos nocivos, o que exigiria enquadrar as plataformas em critérios que veículos de comunicação tradicionais já devem cumprir.

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Termo ‘fake news’ é sequestrado pela retórica política [#11]

O termo 'fake news' foi sequestrado pela retórica política em uma semana marcada por denúncias sobre a existência de um "gabinete" vinculado ao Palácio do Planalto para promover ataques a opositores e espalhar desinformação, e pela pressão de parlamentares bolsonaristas quanto à investigação em andamento na Polícia Federal sobre conteúdos falsos a respeito da ajuda e do resgate às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Traduzido como "notícia falsa", o termo induz à percepção de que as mentiras são produzidas pela imprensa e sugere que criminalizar argumentos falsos é uma forma de cercear a liberdade de expressão. Mas as 'fake news' estão associadas à fraude e ao dolo. Quem as cria, produz e dissemina tem a intenção de obter vantagens e a consciência de que está cometendo um ilícito. A Democracia perde com a simplificação.

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Regulação das redes e as tensões judiciais nas eleições [#10]

Desafiada a estabelecer os critérios de regulação na produção de conteúdo e anúncios políticos na campanha para as eleições municipais no Brasil, a Justiça Eleitoral se posiciona no limite entre a censura e a moderação necessária da liberdade de expressão. Não é um lugar confortável, especialmente pela ausência de uma legislação específica. Mas, o sistema jurídico brasileiro já tem instrumentos sólidos para o combate à desinformação, baseados no Código Penal. A questão é que, mesmo em regiões onde a regulação das mídias digitais é considerada avançada, como na Europa, o processo eleitoral não escapou das campanhas ilegais e de desinformação. Os riscos associados a esse problema extrapolam a responsabilização das empresas de tecnologia e a criminalização das chamadas 'fake news'. Existe uma crise de legitimidade das nações, com cada vez menos poder para enfrentar o desafio sozinhas.

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Passionalidade, polarização e inércia no combate às ‘fake news’ [#09]

No Congresso Nacional, a criminalização das 'fake news' foi vetada. No STF, o assédio judicial a jornalistas foi reconhecido. Mas a inércia no combate à desinformação se renova no jogo político passional e polarizado. O Legislativo se divide entre a justificativa rasa dos opositores ao governo, de que a criminalização das 'fake news' é uma forma de censura, e a proposta governista de moderar a liberdade de expressão pela punição, sem muita clareza sobre como pesar as diferentes intenções e responsabilidades na propagação de mentiras e falsidades. Enquanto isso, o Judiciário assume o protagonismo de proteger a integridade das eleições com medidas nem sempre amparadas por princípios democráticos, ainda que necessárias para se evitar danos à Democracia. Pela inércia política e pelas reações judiciais, estilhaços da desinformação vão minando o campo por onde os fatos perdem força.

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