LEITURA CRÍTICA

BOLETINS SEMANAIS

Estamos de volta, com o primeiro boletim do ano, agora quinzenal. Neste ano, vamos acompanhar como as tecnologias influenciam o consumo de informação qualificada. O primeiro prenúncio de que as grandes empresas de tecnologia apostam em uma soberania digital foi dado pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg. Ao menos nos EUA, suas plataformas não contarão mais com a verificação especializada dos fatos. Também há mudanças nas políticas de moderação de conteúdo, mais permissivas com postagens sobre temas sensíveis que, em países como o Brasil, podem ser consideradas ilegais. Em nossa leitura crítica, o discurso de que as medidas procuram ampliar a liberdade de expressão sugere uma estratégia de tensionar as leis e as normas contra a manipulação do debate público e o monopólio da infraestrutura de redes, essenciais para o controle político nas decisões sobre o negócio.

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Como já apresentamos nas nossas leituras críticas, o uso de IA para gerar conteúdo sintético de desinformação não se concretizou nas eleições municipais deste ano. Mas o terreno onde irregularidades com esse tipo de tecnologia pode florescer foi semeado, especialmente na corrida pela prefeitura de São Paulo. A Justiça Eleitoral tem se antecipado ao impacto das tecnologias em eleições porque está avalizada pelo Legislativo, que se vem se eximindo de regular nesse campo. Os limites estabelecidos no âmbito das eleições têm ajudado a entender os riscos enfrentados pela Democracia diante dos avanços tecnológicos. A questão é saber se as resoluções normativas estão moldando as decisões fora da esfera eleitoral ou não.

Desordem informacional teve nome e sobrenome nas estratégias de campanha para as eleições que fecharam o primeiro turno no domingo (06/10). Fraude, discurso violento e mentiras marcaram um processo eleitoral pautado em velhas práticas de desinformação, subvertendo as preocupações da Justiça com o uso de Inteligência Artificial. Os principais desafios foram controlar as tensões provocadas por candidatos, especialmente Pablo Marçal, que usaram as brechas nas normas eleitorais para ganhar visibilidade. Marçal é visto como um fenômeno por ter alcançado um número de votos expressivo na maior cidade do país ao explorar os recursos oferecidos pelas 'big techs' para lucrar no âmbito político com a economia da atenção e superou a IA como ameaça à integridade das eleições.

A desinformação política, especialmente em períodos eleitorais, é reciclada com pequenas alterações e volta a circular mesmo depois de amplamente desmentidas suas mentiras e tentativas de manipulação. Um estudo da Newtral, na Espanha, revela que 25% das verificações refutam conteúdo reciclado com estratégias que envolvem a criação de dados, mudanças de contexto e a combinação de múltiplas afirmações para dificultar o trabalho de checagem. A imprensa, por seu lado, muitas vezes recorre a declarações oficiais para refutar alegações falsas ou enganosas, em uma postura pouco crítica e investigativa. Na democracia veloz das mídias digitais, o combate à desinformação precisa ir além de desmentir boatos. Requer uma imprensa mais crítica e a implementação de mecanismos de controle social que pressionem as instituições democráticas a práticas mais transparentes.

Um cenário preocupante de intimidação política no limite entre o discurso aceitável pela Justiça e a violência explícita ganha força no período eleitoral. Extremistas, especialmente de direita, têm ameaçado autoridades e servidores públicos sem consequências legais, mesmo ao incitar a violência. A correlação entre a retórica de líderes políticos e o aumento da violência explícita tem se revelado mais consistente, diante de inúmeros casos de agressão e intimidação política. A desinformação está sendo usada estrategicamente para inflamar debates e amplificar discursos que desafiam as instituições democráticas e promovem a polarização. As táticas de elevar o antagonismo em períodos eleitorais estão impactando os índices de confiança na Democracia, como mostram levantamentos recentes de organizações internacionais.